Fantástico: Colombiana doa rim a desconhecido e cria cadeia de transplantes
Oswaldo, hoje com 26 anos, era um homem saudável. Até que uma doença fez os rins pararem de funcionar. Aí, foram dois anos fazendo hemodiálise, na lista de espera por um transplante. ”Eu tinha um cateter aqui do lado esquerdo que era ligado à máquina que trabalhava por oito horas, enquanto eu dormia. Todas as noites”, lembra Oswaldo Padilha. Oswaldo ficava mais fraco e doente a cada dia. Sônia, a cunhada dele, decidiu doar um rim. ”Me disseram que minha saúde era muito boa mas que infelizmente eu não era compatível com o tipo de sangue do Oswaldo”, conta Sônia.
Sônia e Oswaldo não sabiam, mas o socorro já estava a caminho. Zully já havia procurado o hospital se oferecendo como doadora.
“Então eu falei para o pessoal da clínica que eu queria continuar o processo e doar o rim para o próximo da lista de espera”, diz Zully Broussard.
E o próximo era Oswaldo, que recebeu o rim da Zully. Quando Zully decidiu fazer a doação ela pensou o óbvio: vou salvar a vida de uma pessoa. Que nada. Esse ato de coragem e amor teve uma espécie de efeito dominó, foi o começo de uma cadeia de doações e transplantes. Por causa da Zully, outras cinco pessoas, além do Oswaldo, que estavam entre a vida e a morte, ganharam um rim.
Essa é a condição fundamental para a cadeia funcionar. Você só recebe o rim se o seu parente ou amigo aceitar doar um para alguém.
A Zully deu o órgão para o Oswaldo. O Oswaldo só pôde fazer o transplante porque a Sônia aceitou doar o rim para uma outra pessoa. Quem recebeu da Sônia foi a Norma. Para a cirurgia da norma acontecer, o filho dela teve que entrar na ciranda e doar o rim para a Maria. Da mesma forma, a Ana, filha da Maria, também teve que doar um rim para outra paciente da lista: a Míriam. A filha da Míriam concordou em doar para o Mark. E a irmã do Mark encerrou a cadeia doando para o Verle.
A gente está mais acostumado a ouvir falar de doação de órgãos de pessoas que morreram. Neste caso, como foi possível criar uma lista de doadores vivos? E ainda, descobrir que Zully era compatível com Oswaldo e assim por diante?
David Jacobs é um especialista em informática. Ele perdeu o pai e o irmão por causa de insuficiência renal. E ele mesmo só está vivo porque ganhou um rim da vizinha.”Um mês depois do meu transplante eu comecei a desenvolver um programa de computador. O que esse programa faz é resolver em segundos um problema matemático complicado”, explica David Jacobs.
O programa está sendo usado em um grande hospital de São Francisco, referência em transplante de rim. E em outras 18 unidades de saúde da Califórnia. Com ele foi possível criar uma lista que não existia: a de gente disposta a doar em vida. Há outros seis programas parecidos sendo usados em hospitais americanos, mas esse, criado por David, é um dos primeiros. “O programa faz um cruzamento de todos os dados de quem quer doar e de quem precisa receber um rim como peso, idade e informações genéticas”, diz David Jacobs.
Programas que fazem o cruzamento de doadores vivos e receptores também já estão sendo usados na Argentina, Polônia e Itália. No Brasil, a lei permite doação em vida se o doador for marido ou mulher ou ainda parente de até 4º grau da pessoa que precisa do órgão. Fora disso, só com autorização da Justiça.
Para um especialista, o programa americano não é o ideal para o Brasil, que ainda tem muitos desafios pela frente, como aumentar o número de transplantes por ano.
“Nós temos a possibilidade de dobrar o número de transplantes com doador falecido e ao invés de fazer cinco mil transplantes de rim, fazer dez mil antes de chegar a esse tipo de necessidade ou situações como essa, que tem são imprudentes”, afirma José Medina Pestana, da UNIFESP. Para ele, quem doa um rim em vida pode colocar a própria saúde em risco. “Um risco a longo prazo que não é totalmente conhecido’, afirma José Medina.
O que mais impressiona a gente nessa história, além do carinho das pessoas, é a rapidez desse sistema de captação de órgãos. Três meses: o tempo que levou entre o dia em que a Zully decidiu doar o rim e a data de realização do sexto e último transplante da cadeia. E mais: as 12 cirurgias, entre doadores e receptores, aconteceram no mesmo hospital, em um período de menos de 48 horas.
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