50 anos do primeiro transplante da América Latina
50 anos do primeiro transplante da América Latina – Uma abordagem técnica
Por Dr. Luiz Estevam Ianhez
O primeiro transplante renal do Brasil foi realizado no dia 21 de Janeiro de 1965, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, pela equipe da Clínica Urológica. Chefiada pelo Prof. J. Geraldo de Campos Freire e pelo Prof. Emil Sabbaga, do departamento de Clínica Médica ( 2a. Divisão do Serviço do Prof. Luiz V. Decout), com a colaboração do Prof. Geraldo Verginelli, do Departamento de Cirurgia ( Serviço do Prof. Alípio Corrêia Neto).
O paciente recebeu o rim do irmão e viveu normalmente mais de oito anos, apesar de ter apresentado uma serie de problemas não previstos: doador com duas artérias renais, necessitando de duas anastomoses arteriais com tempo isquemias de 41 minutos, sem perfusão naquela época, e, no pós-operatório imediato, teve hemorragia digestiva alta, conseguente a altas doses de prednisona empregadas, permanecendo apenas com azatioprína como única droga imunossupressora. Quatro anos mais tarde, verificando que esse paciente rim de doador indêntico, pois somente em 1969 surgiu a tipagem HLA. Por essa feliz histórica coincidência, esse paciente conseguiu manter-se apenas com azatioprina, sem corticóide. Como seria nosso programa se o primeiro paciente tivesse má evolução?
No mesmo ano de 1965, outros três transplantes forma realizados, também com doador vivo, no mesmo serviço, agora denominado de unidade Transplante Renal, criado pelo Conselho Diretor do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Todos os pacientes estavam vivos, com o enxerto funcionamento após seis meses, e esses dados foram apresentados no III Congresso Brasileiro de Nefrologia, na Bahia, em julho de 1966. A boa evolução desses quatro primeiros pacientes foi, seguramente, a grande força propulsiva para o desenvolvimento tão acelerado que teve a unidade transplante renal do Hospital das Clinicas.
No ano seguinte, foram realizados no mesmo serviço mais quatro transplante, e em 1967, outros sete. A análise desses primeiros 15 transplante renais, com doador vivo parente, do Hospital das Clinicas da Universidade de São Paulo, foi publicada na Revista da Associação Medica Brasileira em 1968. A sobrevida dos pacientes e dos exceto foi de 64% após o primeiro ano.
A imunossupressão empregada constou de azatioprina e prednisona; em alguns casos, fora utilizados, pioneiramente no Brasil, outras medidas imunossupressora, como drenagem do ducto torácico e irradiação endolinfática com lipiodol radiotivo.
A histocompatibilidade HLA, assim como a prova cruzada, não era feito nessa época antes do transplante. A compatibilidade sanguínea ABO era o único teste imunológico de transplante. A compatibilidade sanguínea ABO era o único teste imunológico realizado.
No ano de 1966, associou-se à Unidade Transplante Renal o Dr. Nelson Figueiredo Mendes, que depois de dois anos de estudos nos Estados Unidos, criou o serviço de imunologia de Transplante Renal na Faculdade de Medicina da universidade São Paulo. A partir de 1968, foram realizados os primeiros testes de prova cruzada, pré-transplante, a tipagem HLA nos lócus A e B.
Alem das dificuldades de ordem imunológicas nos casos iniciais, o manuseio do paciente renal crônico ainda era precário, pelas dificuldades dialíticas da época e pelas falta de meios de tratamentos de doentes graves. Não tínhamos unidade de terapia intensiva e principalmente não tínhamos também experiência e manusear grupo tão delicado de pacientes, como é o dos imunossuprimidos.
Em 1967, foi realizado no Hospital das Clinicas de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, o primeiro transplante renal com doador cadáver no Brasil, pela equipe do Prof. Aureo José Ciconelli.
A necessidade de outras medidas imonossupressoras suplementares, como novo programa de transplantes de rim cadáver, fez com que desenvolver-se, na Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto, a Fabricação de globulina antilinfocitária, utilizada em paciente no primeiro serviço e, experimentalmente em Ribeirão Preto.
A equipe de transplante de São Paulo realizou em 1967 o primeiro transplante em um Hospital (Hospital Sirio-Libanes de São Paulo) e, em 1971, essa mesma equipe realizou o primeiro transplante com doador não – consanguineo no Brasil – doação de esposa para esposa. Em 1972, foram apresentados, no VI Congresso Brasileiro de Nefrologia, 14 casos de transplantes renal realizados entre Agosto de 1968 e Maio de 1972, no Rio de Janeiro, sendo três doador voluntários.
Fonte: www.luizestevam.com.br
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